Thursday, June 21, 2012

Colagem de palavras

 Meu plano era fazer uma colagem de fotos. Escolher algumas fotos de momentos importantes, momentos felizes, momentos cotidianos, enfim, uma simples colagem de fotos para celebrar o aniversário do meu filho mais velho, que completa quatro anos no dia 25/06/2012. Minha intenção era  simplesmente selecionar fotos que trouxessem sorrisos aos nossos lábios ao revivermos as situações e os sentimentos que as marcaram e fazer uma bonita colagem. Quem dera...

Primeiro, fui no diretório denominado "2008" pois lá estariam as primeiras fotos, o começo de tudo. O começo da minha transição de um ser inteiro para um ser dividido, que tem o coração batendo fora do corpo e a alma florida. Ao ir selecionando cada foto, ao percorrer os inúmeros diretórios com as centenas de fotos tiradas a cada dia do meu precioso filho, daquele ser para o qual passei a primeira noite inteira olhando sem acreditar no que tinha acontecido, bem, eu chorei.

Como se não bastasse, ao me ver chorando na frente do computador meu filho veio correndo na minha direção com suas mãozinhas no meu rosto, dizendo, assustado: mamãe, você está chorando? Tem que parar de chorar mamãe, eu seco aqui o seu olho, ó. Como explicar chôro de alegria para uma criança que não tem ainda quatro anos? Como explicar que eu sou tão feliz por tê-lo assim, grandinho, se comunicando e me consolando e ao mesmo tempo daria anos da minha vida para tê-lo bebê nos meus braços novamente?

Não, eu ainda não me acostumei com a idéia de ser mãe. Quando eu estava grávida me lembro que a sensação de ter outro ser dentro de mim me angustiava, assustava, eu não conseguia definir. Minha fono me perguntou: você não se sente coadjuvante do trabalho de Deus? E eu só conseguia pensar no Alien (o filme). É, eu sou estranha desse tanto. E agora que meus dois filhos já não dividem o mesmo corpo comigo, eu ainda não consigo achar "ser mãe" algo corriqueiro. Meu coração derrete todo dia. TODO.SANTO.DIA. É verdade. Às vezes eu digo para mim mesma: hoje nada vai fazer meu coração se derreter com essas "mãezices". Aí vem um sorriso matreiro, uma palavra nova, uma frase completamente sem noção dessas que só criança diz, uma nova habilidade, um desenho, uma mãozinha enxugando minhas lágrimas, um abraço, um "eu te amo muito mamãe"... enfim, a lista é infinita. E eu me pego derretida feito manteiga.

Nem preciso dizer que a colagem mal começou. Cada subpasta da pasta 2008 foi outro chororô. E ainda faltam 2009, 2010, 2011, 2012... Acho que talvez essa colagem nem saia. Cada ano, ou melhor, cada pasta de fotos me convida a ponderar o quanto eu mudei e venho mudando nessa aventura de casar, ter filho e mudar de país a cada seis meses.

Me convida a admirar a continuidade e, paradoxalmente, a efemeridade da nossa vida e das nossas nóias. Agora que sou mãe, carrego outros dois outros seres comigo e, paradoxalmente, viajo muito mais leve.


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